Apetece-me escrever.
Só não sei o quê...
Há tanto para sair de mim que nem sei por onde lhe pegar
A mente peca...
Se tivesse a ousadia pegaria noutra arma que não a caneta,
Rebelar-me-ia contra tudo e todos.
Sem saber bem porque razão,
Não necessitaria de qualquer satisfação.
Basta olhar em redor!
Estou farto disto tudo,
Do tédio que é a realidade,
De ter que ser cego, surdo e mudo,
De não libertar a espontaneidade.
Esta cobardia incutida em mim e em todos
Impede-me de ser o animal que sou,
De fazer aqui e agora o que quer que me apeteça.
A perfeição é enervante,
O tempo é angustiante,
Só por isso desespero.
Não quero ter que fazer nada!
... obrigações?
...até as cumpriria.
Se a tal não fosse OBRIGADO.
Mas é esse sentido de inevitabilidade que me oprime.
E só não chamo ditadura a este regime
Porque é invisível a meus olhos.
Pois fazem-me crer que cumpro as ordens,
Que levo uma vidinha tão desconcertadamente certa,
Por minha própria vontade...
Eu não quero isso.
Mas a minha voz,
sozinha,
perde o seu eco.
Num mar de gente silenciosa.